Finja... Até se tornar realidade!
Originalmente publicado em 2016-03-26 10:00 no blog Patinete a vela.
Para quem tem um martelo tudo é prego. E os apps para smartphones são o novo martelo da moda que todo mundo quer usar para martelar todo tipo de prego no dia a dia. Qualquer probleminha do cotidiano já leva à pergunta: será que consigo resolver usando um app? Desta forma é muito fácil passar o dia acumulando idéias para desenvolver montes de apps.
O problema é que é muito fácil acumular idéias e muito difícil dar vazão a elas.
Se você decidir desenvolver uma delas, qual você vai escolher? É uma decisão difícil a ser tomada! Seja qual for a idéia que você escolher, vai ter que dedicar tempo e esforço caso queira vê-la funcionando. E o risco de acabar escolhendo uma idéia que não era tão boa assim e desperdiçar seu tempo nela às vezes é suficiente para te fazer até desistir de começar.
Quando comecei a desenvolver aplicativos eu queria alguma forma rápida de ir tirando as idéias da cabeça e poder ir pulando para a próxima. Mas eu tinha o vício de programador de querer começar já programando, o que na verdade faz com que demore até você começar a ver o resultado de sua idéia.
Um dia eu vi um vídeo chamado Prototyping: Fake it til you make it. Este vídeo é uma palestra feita pelos designers de aplicativos da Apple na conferência anual WWDC (World Wide Developers Conference) de 2014.
Este vídeo ilustra o processo que os designers da Apple utilizam quando eles vão fazer um aplicativo novo.
Comece simulando o visual
Os designers não manjam de programação; manjam de experiência do usuário. Por isso eles querem validar o máximo possível das decisões de design antes de precisarem passar as especificações para os programadorefake_1.pngs.
Então eles começam fazendo um protótipo que simula o visual do aplicativo. Para isto eles utilizam um software da Apple equivalente ao PowerPoint, que é o Keynote.
Se você cria uma apresentação em que os slides têm o mesmo tamanho que a tela do celular, você pode desenhar suas telas e a transição entre elas com esta ferramenta.
O bom disto é que você usa uma ferramenta com a qual você já está (ou deveria estar) acostumado: o Keynote ou o PowerPoint.
Se você depois exibe para seus potenciais usuários a apresentação no seu celular (usando o app do Keynote ou mesmo transformando em pdf), eles demorarão para perceber que o app é falso.
Fazer um protótipo no PowerPoint ou Keynote é excelente porque são ferramentas gráficas relativamente fáceis de usar e você já começa a organizar suas idéias.
Enquanto suas idéias voam livres em sua cabeça, sem forma definida, é difícil apreciar a dificuldade de transforma-las em algo realmente utilizável. Ao começar a desenha-las você é forçado a pensar em um monte de detalhes importantes que você não havia pensado antes.
Valide e melhore o visual com o seus usuários
Tendo este protótipo pronto, agora é hora de sair e mostrar para o máximo de pessoas que você puder, com o objetivo de coletar feedback e melhorar sua interface com o usuário. É muito mais fácil mudar a interface no PowerPoint do que no código uma vez programado, pode apostar nisso.
Quanto mais pessoas virem e opinarem sobre seu protótipo, melhor. Em posts futuros eu vou descrever algumas dicas de perguntas e informações para obter nas conversas com seus potenciais usuários. De modo geral, você quer validar se o seu app resolve algum problema que o usuário tem de fato e se a interface que você criou ajuda a seu usuário em vez de atrapalha-lo.
Simule o comportamento do aplicativo
Com um visual já mais ou menos maduro, você pode começar a desenvolver um protótipo um pouco mais funcional.
Neste momento você já pode entregar para um programador começar a programar, mas o foco não é em ter um aplicativo completo e maduro para colocar na AppStore ou no Google Play, e sim ter um protótipo com o qual seu usuário já possa interagir.
Em vez de ter uma base de dados na internet, seu app pode ter dados pré-definidos offline; em vez de ter interação com redes sociais, o app já pode vir com uma lista estática de “amigos falsos” só para mostrar para o usuário como seria.
Use este protótipo funcional para novamente buscar opiniões com os usuários.
Incremente o aplicativo até ficar pronto
Com o protótipo funcional, é relativamente fácil aos poucos ir mudando seus módulos internos para deixa-lo robusto.
Obviamente, como os protótipos são construídos basicamente como gambiarras em cima de gambiarras, o aplicativo pronto provavelmente não será um primor de qualidade. Mas ele funcionará bem e estará disponível para a validação definitiva com o usuário final.
Uma vez que você verifique que o usuário final gostou do seu aplicativo você consegue a segurança para determinar se vale a pena ou não investir em uma equipe de desenvolvimento mais madura para refazer seu app com mais qualidade.
Mas mesmo este desenvolvimento será mais rápido e barato porque já terá requisitos bem conhecidos e definidos, então a equipe poderá focar seus esforços implementando estes requisitos em vez de ter que descobrir o que o usuário final quer.
Conclusão
Acho que a beleza deste processo está no fato de que você aprende muito rápido sobre o negócio em que seu aplicativo se encaixa e consegue decidir se vale a pena continuar investindo na idéia sem sacrificar muito esforço e recursos.
Além disso, a interação com o usuário final é muito benéfica, pois você consegue maior confiança em saber se o seu aplicativo irá resolver um problema que realmente existe para o usuário.
Eu apliquei este processo várias vezes para validar idéias de aplicativos. Nos próximos posts irei mostrar e comentar meus protótipos de Keynote e funcionais para que você se inspire e comece a fazer os seus próprios.