Linotipo e linotron: Os avós da impressão
Um livro é um objeto fascinante. À primeira vista, é apenas um maço de folhas de papel com texto impresso e unidos através de cola e linha. Mas a tecnologia por trás da confecção de um livro é extraordinária, e que facilmente se perde nos bastidores de nossa vida diária.
A criação da máquina de imprensa de Gutenberg é, com bastante razão, creditada como sendo revolucionária, capaz de retirar o povo europeu da idade das trevas através da massificação da divulgação do conhecimento.
Mas você já viu como funciona essa máquina? Dá uma olhadinha no vídeo abaixo.
O processo de confeccionar um livro com esta tecnologia é tremendamente manual e laborioso. Um técnico precisa montar todo o texto que será impresso em um tabuleiro usando pequenos “carimbinhos” de metal, chamados de “tipos”, cada um contendo uma letra desejada. Quando uma página inteira está pronta, o técnico precisa distribuir cuidadosamente tinta por sua superfície, inserir esse tabuleiro em uma prensa, posicionar uma folha de papel por cima do tabuleiro e puxar uma alavanca que irá baixar a prensa, pressionando com força a folha sobre a superfície coberta de tinta dos tipos.
Imagina imprimir um livro grosso? De mil páginas? A primeira obra publicada pelo Gutenberg foi uma Bíblia, imagina o tamanho da equipe que ele precisou ter para montar cada uma das páginas e posteriormente imprimir cada cópia?
Neste outro vídeo vemos uma versão um pouquinho mais moderna da máquina, na qual pelo menos o processo de pressionar a folha contra a matriz é feito por um mecanismo mais leve. Mas ainda é necessária a etapa manual de montagem da matriz.
Outra coisa que imagino é que deve ser inviável guardar a matriz de tipos de cada página após impressa, até porque seria necessário ter uma infinidade de tipos para isso, então depois de todo o trabalho de montar uma página e imprimir, ela deveria ser desmontada. Se precisar de novo da mesma página, azar, precisa montar de novo.
Ok, a máquina de imprensa de Gutenberg representa 100% do conhecimento sobre o assunto “como livros são feitos” que vi na escola. Aí eu vejo alguns livros em minha biblioteca das décadas de 80, 60, 50, com lindas fontes, letras alinhadinhas, bem regulares, e me vi imaginando: como raios isso é feito? Certamente não com funcionários posicionando manualmente tipos em tabuleiros para depois efetuar a prensa.
Fazendo uma pesquisa descobri a existência de duas máquinas maravilhosas: o linotipo e o linotron. O linotipo foi inventado por um alemão chamado Ottmar Mergenthaler no final do século 19 e o linotron é uma máquina criada pela Mergenthaler, empresa que Ottmar criou, quase um século depois.
O linotipo é aparato mecânico incrivelmente elaborado onde um operador tem acesso a um teclado que, na medida em que as teclas são pressionadas, deixa cair os tipos correspondentes a cada letra em uma canaleta onde vão formando cada linha do texto. Quando a linha é concluída, o mecanismo transporta esse conjunto de tipos até um setor onde é injetado chumbo líquido e é criado um molde com o formato certinho das letras dessa linha. Esse molde é posicionado em um tabuleiro onde já estavam os moldes das linhas anteriores, e os tipos usados para criar o molde são devolvidos para a bandeja onde serão posterioremente usados para criar novas linhas de texto.
O vídeo a seguir mostra em grande detalhe esta máquina maravilhosa.
Um detalhe muito interessante no final do vídeo é a apresentação de uma tecnologia de leitura de fitas perfuradas que permitia “automatizar” o processo de posicionamento de tipos no linotipo. Não é de hoje que a automação elimina empregos.
A próxima revolução da Mergenthaler veio com o Linotron. Esta máquina substituiu o uso de tipos mecânicos por tipos óticos. Utilizando lentes, filmes impressos com as letras e símbolos desejados e um tubo de crt, a máquina permitia compor os textos projetando os caracteres sobre um papel especial ou sobre um filme, que poderiam ser usados para posterior impressão. O vídeo abaixo apresenta o linotron 505, de 1969. É uma tecnologia meio digital, meio analógica que eu nem imaginava que era possível nessa época.
Finalmente, cheguei a alguns vídeos do canal Computerphile no Youtube que recomendo assistir. O primeiro é marginalmente relacionado com a evolução da imprensa, onde o professor Brailsford da Universidade de Nottingham na inglaterra conta a história de um grupo de pesquisadores da Bell Labs que em 1979 fez uma engenharia reversa de um Linotron 202 para conseguir subverter a máquina e faze-la imprimir coisas que, até o momento, eram impossíveis, como por exemplo gráficos vetoriais.
Esta engenharia reversa foi altamente “ilegal”, ou pelo menos completamente desautorizada pela Mergenthaler, e quando os engenheiros da Bell quiseram publicar um memorando explicando o que eles descobriram sobre a máquina, foram fortemente induzidos pelo setor jurídico da Bell a engaveta-lo e nunca mais falar dele. Hoje este memorando está disponível para leitura e para satisfazer mentes curiosas no site do Summer Project.
Um vídeo bom para finalizar é uma continuação feita pelo professor Brailsford contando um pouco mais sobre a história da imprensa.
Espero que você tenha curtido este passeio pela história da imprensa!