Nunca atenda a um cavaleiro Jedi...
Originalmente publicado em 2013-08-15 19:33 no blog Patinete a vela.
Bjorn Ur’drizzt entrou ao restaurante com sua calma habitual e escolheu um assento confortável em uma mesa próxima à grande janela dos fundos. A vista do deserto era muito agradável, dunas suaves de areia salpicadas de pequenas áreas verdes onde cabras e seus pastores paravam para repousar em suas caminhadas. Bjorn sentou-se e acenou para o garçom, que aproximou-se de imediato.
– Boa tarde, eu gostaria de fazer meu pedido.
– Desculpe, não atendemos Jedis, é política da casa.
Bjorn olhou espantado para o garçom e retrucou:
– Deve ser um engano, eu não sou um Jedi.
– Certo, então esse aparelho pendurado em seu cinto também não deve ser um sabre de luz, não é?
Bjorn olhou para o aparelho, um cilindro metálico de aproximadamente trinta centímetros de comprimento e um botão vermelho no centro.
– Isto é, hmmmm, isto certamente não é um sabre de luz, é uma, ahn, lanterna - respondeu Bjorn.
– Ah, então, você não se incomodaria em apertar esse botão vermelho e iluminar aquela parede alí, né?
Bjorn soltou o aparelho de seu cinto, segurou com a mão direita e pressionou o botão vermelho. Um feixe de luz azul surgiu imediatamente. O feixe era cilíndrico e magicamente se interrompia a uma distância de cerca de um metro do ponto em que saía do aparelho. O feixe fazia um leve zunido (zummmm, zummmm) quando Bjorn o movia pelo ar.
– Esta lanterna está com defeito, viu só? Ela tem o alcance muito curto. Eu já ia reclamar com o trapaceiro que vendeu para mim.
– Desculpe senhor, eu reconheço um sabre de luz quando vejo um e isso é um sabre de luz sem dúvida alguma.
Bjorn olhou para o sabre de luz.
– Bom, então isso deve fazer de mim um cavaleiro Jedi, certo?
– Isso mesmo. Apenas um cavaleiro Jedi consegue acionar um sabre de luz. E, como mencionei, é política da casa não servir a Jedis.
Dito isto, o garçom apontou para um pequeno cartaz ao lado da porta, onde se via um desenho estilizado de um homenzinho preto segurando um sabre de luz. Este homenzinho estava dentro de um círculo vermelho com uma linha também vermelha em diagonal passando por cima dele.
– Isto não é possível, eu venho quase todos os dias a este restaurante e nunca houve uma proibição desse tipo.
– Essa placa está nesse lugar desde que eu vim trabalhar aqui, o que já leva alguns meses. E se tivéssemos servido a algum Jedi com certeza eu me lembraria.
– Que seja, essa é uma proibição estúpida. Veja só, vocês estão servindo a um wookie lá na outra mesa e vão me dizer que não podem servir a um Jedi? Olha só, o bicho nem consegue comer sem derramar sua comida por toda a mesa!
Bjorn apontou para uma criatura humanoide de cerca de dois metros de altura, completamente peluda, com um simpático nariz preto. A criatura, de fato, comia um enorme pernil de um jeito animalesco e os sucos do pernil escorriam por seu pêlo e pela mesa.
– Sem contar nas bolas de pêlo que o cara solta pelo restaurante, tá vendo?
– Hoje em dia é muito comum os estabelecimentos permitirem a entrada de wookies. De todos modos, a proibição veio direto do dono do restaurante e não há nada que eu possa fazer a respeito.
– Pois eu exijo falar com o dono neste instante!
O garçom soltou um suspiro e pediu a Bjorn para esperar enquanto buscava o dono. Poucos minutos depois o garçom voltou acompanhado de um outro humano.
– Boa tarde, senhor, o meu funcionário me disse que o senhor está insatisfeito com o nosso restaurante?
– É claro que estou insatisfeito! Sou um pobre Jedi trabalhador, passo meus dias combatendo os soldados do Império e quando preciso repor minhas energias com uma refeição revigorante eu me deparo com essas proibições arbitrárias!
– Senhor, não é uma proibição arbitrária, a associação de donos de restaurante de Radragul decidiu por unanimidade que não iria mais atender Jedis, eu só cumpro minha parte.
– Mas é uma proibição estúpida!
– Não é estúpida! Sabe, a cada veículo de guerra do Império que é destruído pelos rebeldes Jedi, chega um aumento de imposto para nós. A cada stormtrooper que é morto por um Jedi, é um filho nosso que é recrutado. A construção da Estrela da Morte já valeu a criação de um imposto novo, caríssimo. Quando respirávamos aliviados pelo fato de ter terminado de pagar esta obra, chegam os Jedis e destroem a bagaça, e aí o Império novamente criou um imposto novo para a reconstrução.
– Heh, eu me lembro desse dia…
– Além do mais, Jedis são maus pagadores. Eles acham que podem pagar apenas com lições de filosofia ou com truquezinhos de mágica de levitação de objetos.
Bjorn olhou com seriedade para o proprietário do restaurante e disse.
– Meu amigo, estou com muita fome, sério. Eu poderia comer aquele wookie assado em uma sentada. Eu entendo seus problemas, mas posso lhe dizer o seguinte: se você me servir, vou comer minha refeição e sair tranquilamente, sem causar problemas, e não contarei a ninguém que estive aqui, certo? Assim não terá problemas com seus amigos donos de restaurante.
O proprietário coçou sua nuca e olhou para o garçom. Depois olhou para Bjorn, que estava olhando com os olhos arregalados e cara de pidão. Então ele disse:
– Ah, tudo bem, sirva ao senhor cavaleiro Jedi e vamos acabar logo com isso.
Bjorn soltou um gritinho de alegria, abriu uma página do cardápio e disse:
– Traga tudo o que está escrito nesta página.
Durante as três horas seguintes o garçom passou trazendo prato atrás de prato. Grandes assados, cinco tipos de sopa, massas, legumes, uma variedade incrível de comidas. Apesar do seu comentário preconceituoso com relação ao wookie, Bjorn comia feito um animal, com suas mãos, salpicando molho para todos os lados, sujando sua barba, sua túnica e inclusive os clientes que estavam sentados nas mesas próximas. De tempos em tempos ele soltava um arroto alto, sonoro, e quando as pessoas nas mesas ao lado olhavam sobressaltadas ele sorria e dizia: “De onde veio isso??”.
Depois da sobremesa e do café, o garçom voltou com um pedaço de papel do tamanho de seu braço. Era a conta. Bjorn pegou a conta e começou a conferir as despesas:
– Uhm… Dois mil, três e quinhentos, sete mil, hm… Esta conta veio bem alta né?
– O senhor tem uma fome prodigiosa, nossa despensa ficou vazia.
Bjorn coçou a cabeça e disse:
– Tudo bem, posso cuidar disto. Por favor chame novamente o dono para que eu possa agradecer pelo serviço.
O garçom voltou com o dono do restaurante. Os dois ficaram em pé à frente de Bjorn, que começou a falar:
– A comida aqui é deliciosa. Fiquei muito satisfeito com o serviço, embora eu gostaria de deixar expressa minha insatisfação com a política da casa em não atender cavaleiros Jedi.
– Entendo sua insatisfação e agradeço pela sua opinião.
Nisso, Bjorn levantou sua mão direita à frente dos rostos do garçom e do proprietário. Seu polegar, indicador e dedo médio estavam abertos, em formato de pinça, enquanto os outros dedos estavam fechados. Os olhos do garçom e do proprietário fitaram sua mão imediatamente. Bjorn deslizou sua mão da esquerda para a direita em um trajeto mais ou menos longo, e ao mesmo tempo ele disse:
– Senhor Bjorn, agradecemos por sua presença no restaurante. Gostamos muito de Jedis e sua refeição será cortesia da casa.
O garçom e o proprietário, em transe, repetiram:
– Senhor Bjorn, agradecemos por sua presença no restaurante. Gostamos muito de Jedis e sua refeição será cortesia da casa.
Bjorn fez uma cara de surpreso e disse:
– Sério mesmo? Puxa vida, são muito generosos, permitam-me pagar alguma coisa!
O garçom olhava para a mão do Jedi com a boca semi-aberta. O proprietário repetiu lentamente:
– Senhor Bjorn, agradecemos por sua presença no restaurante. Gostamos muito de Jedis e sua refeição será cortesia da casa.
O Jedi se levantou sorrindo, passou novamente sua mão pela frente do garçom e do proprietário e disse:
– Assim que eu sair do restaurante vocês vão se esquecer que eu estive aqui.
Bjorn dirigiu-se à saída. O garçom e o proprietário continuaram parados no lugar, em transe, olhando enquanto o Jedi se afastava. Ao chegar à porta, este se virou e disse:
– Obrigado por tudo! Nos vemos de novo amanhã!